Kadafi conclama partidários a defender a Líbia
Pronunciamento em Trípoli é feito enquanto há registros de que forças de segurança do regime tentam reprimir protestos na capital
Reprodução da TV estatal da Líbia mostra o líder Muamar Kadafi acenando para partidários na Praça Verde, em Trípoli
Em um pronunciamento transmitido pela TV estatal, o líder da Líbia, Muamar Kadafi, conclamou uma multidão de partidários na praça central de Trípoli, capital do país, a lutar contra os opositores do regime e a "defender a nação". Segundo o New York Times, é impossível saber se o discurso foi ao vivo ou se era gravado.
Vestido com um chapéu de pelo e óculos de sol, Kadafi dirigiu-se à multidão do parapeito do Castelo Vermelho, um forte histórico, tendo uma visão geral da Praça Verde, onde mais de mil partidários portavam fotos do líder líbio e bandeiras verdes.
Balançando seu punho fechado no ar, Kadafi disse a seus simpatizantes para "retaliar contra eles (opositores)" e para "se preparar para defender a nação e o petróleo".
"O povo líbio ama Kadafi", disse à multidão. Segundo ele, "nós podemos esmagar qualquer inimigo. Quando necessário, vamos abrir os arsenais para armar todo o povo líbio e todas as tribos líbias". Kadafi acrescentou: "Estamos prontos para triunfar sobre o inimigo."
Mandando beijos para os aliados, Kadafi disse: "Somos a nação da dignidade e da integridade. Esta nação triunfou sobre (a ex-colonizadora) Itália. Dancem, cantem e preparem-se... o espírito de vocês é mais forte do que qualquer tentativa dos estrangeiros e dos inimigos de nos destruir", disse Kadafi, que está no poder há 42 anos.
O discurso foi feito enquanto o Conselho de Segurança da ONU se prepara para discutir nesta sexta-feira um projeto de sanções contra os líderes líbios, em meio a informações de que forças de segurança abriram fogo durante protestos de milhares de manifestantes na capital do país. Além da reunião da ONU, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) também se reunirá em caráter de emergência nesta sexta-feira para discutir a crise da Líbia.
Em pelo menos três bairros da capital houve registro de tiroteios depois das preces de sexta-feira, com as forças de segurança atuando para dispersar os manifestantes que se reuniam para marchar nas ruas ou para deliberadamente atingi-los.
Líderes rebeldes disseram que estão enviando forças para cidades vizinhas e para outras partes do país para unir-se aos combates. Também há informações não confirmadas de que uma base aérea fora da capital está sob o controle dos opositores.
Algumas testemunhas, em entrevistas por telefone com agências de notícias, disseram que vários foram feridos ou mortos em Trípoli. Com o acesso limitado aos jornalistas, é impossível verificar os relatos de forma independente.
Citando uma testemunha não identificada, a Reuters afirmou que a violência deixou pelo menos cinco mortos no distrito de Janzour, no oeste da capital. Outras testemunhas de bairros do leste da capital, como Ben Ashur e Fashloum, também disseram que houve disparos contra opositores de Muamar Kadafi que gritavam slogans contra o líder líbio.
"As forças de segurança dispararam contra os manifestantes sem fazer distinção. Há mortos nas ruas de Sug Al Joma", indicou um habitante desse bairro citado pela agência EFE.
A tensão vinha escalando ao longo da semana, com protestos na capital aguardados para depois das preces. Segundo o site privado líbio Libyapress, os fiéis organizaram um protesto após a cerimônia religiosa e foram recebidos com violência pelas forças de Kadafi.
Trípoli se tornou uma espécie de bastião do regime, patrulhada pelas forças especiais do governo. Nos últimos dias, testemunhas disseram à BBC que o clima na capital era de uma tensa calma e que as forças de Kadafi podiam ser vistas em toda a cidade.
Os desdobramentos da crise líbia já indicavam o que vinha sendo chamada de antemão "a batalha de Trípoli". O leste do país – onde estão cidades como Benghazi, Tobruk e Ajdabiya – permanece sob controle firme da oposição, mas o governo lançou ofensivas para tomar o controle das localidades próximas ou a oeste de Trípoli, como Zuara, Sabratha, Misrata e Al Zawiya.
Até a quinta-feira, os relatos eram de que a cidade de Al Zawiya, a 50 km de Trípoli, era palco de alguns dos mais sangrentos enfrentamentos. Na terceira cidade do país, Misrata, a 200 km da capital, foram registrados combates pelo controle do aeroporto. Mas os relatos são que a cidade também caiu em favor dos rebeldes.
Nesta sexta-feira, centenas de milhares se reuniram em Benghazi, epicentro dos protestos contra o regime de Kadafi, para exigir a renúncia do líder líbio.
Pressão internacional
Fora do território líbio, as olhares estão centrados na reunião desta sexta-feira do Conselho de Segurança da ONU e Nova York, com a expectativa de que sejam aprovadas medidas urgentes para deter o "alarmante" aumento da repressão no país, onde além de milhares de mortos e feridos, há "massacres, detenções arbitrárias e torturas", segundo a ONU.
A criação de uma zona de exclusão aérea, com o objetivo de impedir aviões militares líbios de operar e atacar manifestantes, pode ser uma das medidas, disse nesta sexta-feira uma fonte diplomática durante a reunião de ministros da Defesa da União Europeia.
Além disso, a reunião do Conselho de Segurança analisará uma proposta de resolução franco-britânica, que inclui a imposição de sanções, o embargo total de armas e o recurso ao Tribunal Penal Internacional, afirmou a ministra de Relações Exteriores francesa, Michèle Alliot-Marie.
A decisão de que o principal órgão decisório da ONU se reúna pela segunda vez em três dias foi tomada após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversar por telefone com seu colega francês, Nicolas Sarkozy, e com os primeiros-ministros britânico, David Cameron, e italiano, Silvio Berlusconi.
Nesta sexta-feira, a União Europeia (UE) fechou um acordo sobre um novo pacote de sanções contra a Líbia, entre as quais se destacam um embargo armamentista e o congelamento dos bens do clã Kadafi em território comunitário, informou a Alemanha. De acordo com o Ministério de Assuntos Exteriores alemão, a medida foi pactuada nesta sexta-feira entre os 27 países do bloco e será sancionada formalmente no início da semana que vem.
Dentre as sanções estipuladas está também a proibição a Kadafi e a seus familiares de entrar em quaiquer dos países da UE.
Segundo o "The Daily Telegraph", o Tesouro britânico identificou bilhões de dólares depositados pelo regime líbio na City londrina, além de propriedades comerciais e uma milionária mansão que Kadafi comprou para um de seus filhos. Acredita-se que o regime líbio tem US$ 20 bilhões em ativos líquidos, grande parte em Londres.
Em outra medida de pressão, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU adotou nesta sexta-feira uma resolução por consenso para enviar uma missão para investigar as violações na Líbia e recomendou que o país seja suspenso da entidade.
A Líbia foi eleita em maio de 2010 para o Conselho após obter 155 votos em uma votação secreta dos 192 estados da Assembleia Geral. O país pode ser suspenso do órgão se dois terços dos membros dos Estados membros da ONU reunidos na Assembleia Geral aprovarem a medida.
Na abertura da sessão especial do conselho, a Alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, expôs com contundência a situação na Líbia. "As forças líbias atacam manifestantes e transeuntes, bloqueiam bairros e disparam a partir dos telhados. Também bloqueiam ambulâncias para que os feridos e mortos sejam abandonados nas ruas", explicou.
Pillay insistiu em que as atrocidades do regime de Kadafi podem constituir crimes contra a Humanidade e pediu a "Tunísia, Egito, Itália e Malta" que mantenham suas fronteiras abertas. O Programa Mundial de Alimentos (PAM) alertou que a rede de distribuição de alimentos na Líbia pode ser paralisada, já que o país é um importador de alimentos e o transporte está bloqueado por causa da revolta e a repressão.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, convocou nesta sexta-feira uma reunião urgente da aliança sobre a Líbia, embora esta deva ser orientada a revisar as possíveis medidas de retirada e assistência humanitária na região, onde continua o fluxo incessante de refugiados.
*Com BBC, EFE, AFP, Reuters e New York Times
Fonte:http://ultimosegundo.ig.com.br
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