sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Kadafi conclama partidários a defender a Líbia

Pronunciamento em Trípoli é feito enquanto há registros de que forças de segurança do regime tentam reprimir protestos na capital

iG São Paulo | 25/02/2011 14:53 - Atualizada às 16:11


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Foto: AFP Ampliar

Reprodução da TV estatal da Líbia mostra o líder Muamar Kadafi acenando para partidários na Praça Verde, em Trípoli

Em um pronunciamento transmitido pela TV estatal, o líder da Líbia, Muamar Kadafi, conclamou uma multidão de partidários na praça central de Trípoli, capital do país, a lutar contra os opositores do regime e a "defender a nação". Segundo o New York Times, é impossível saber se o discurso foi ao vivo ou se era gravado.

Vestido com um chapéu de pelo e óculos de sol, Kadafi dirigiu-se à multidão do parapeito do Castelo Vermelho, um forte histórico, tendo uma visão geral da Praça Verde, onde mais de mil partidários portavam fotos do líder líbio e bandeiras verdes.

Balançando seu punho fechado no ar, Kadafi disse a seus simpatizantes para "retaliar contra eles (opositores)" e para "se preparar para defender a nação e o petróleo".

"O povo líbio ama Kadafi", disse à multidão. Segundo ele, "nós podemos esmagar qualquer inimigo. Quando necessário, vamos abrir os arsenais para armar todo o povo líbio e todas as tribos líbias". Kadafi acrescentou: "Estamos prontos para triunfar sobre o inimigo."

Mandando beijos para os aliados, Kadafi disse: "Somos a nação da dignidade e da integridade. Esta nação triunfou sobre (a ex-colonizadora) Itália. Dancem, cantem e preparem-se... o espírito de vocês é mais forte do que qualquer tentativa dos estrangeiros e dos inimigos de nos destruir", disse Kadafi, que está no poder há 42 anos.

O discurso foi feito enquanto o Conselho de Segurança da ONU se prepara para discutir nesta sexta-feira um projeto de sanções contra os líderes líbios, em meio a informações de que forças de segurança abriram fogo durante protestos de milhares de manifestantes na capital do país. Além da reunião da ONU, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) também se reunirá em caráter de emergência nesta sexta-feira para discutir a crise da Líbia.

Em pelo menos três bairros da capital houve registro de tiroteios depois das preces de sexta-feira, com as forças de segurança atuando para dispersar os manifestantes que se reuniam para marchar nas ruas ou para deliberadamente atingi-los.

Líderes rebeldes disseram que estão enviando forças para cidades vizinhas e para outras partes do país para unir-se aos combates. Também há informações não confirmadas de que uma base aérea fora da capital está sob o controle dos opositores.

Algumas testemunhas, em entrevistas por telefone com agências de notícias, disseram que vários foram feridos ou mortos em Trípoli. Com o acesso limitado aos jornalistas, é impossível verificar os relatos de forma independente.

Citando uma testemunha não identificada, a Reuters afirmou que a violência deixou pelo menos cinco mortos no distrito de Janzour, no oeste da capital. Outras testemunhas de bairros do leste da capital, como Ben Ashur e Fashloum, também disseram que houve disparos contra opositores de Muamar Kadafi que gritavam slogans contra o líder líbio.

"As forças de segurança dispararam contra os manifestantes sem fazer distinção. Há mortos nas ruas de Sug Al Joma", indicou um habitante desse bairro citado pela agência EFE.

Milhares de líbios se reúnem para as preces de sexta-feira do lado de fora de corte judicial em  Benghazi, leste da Líbia
Foto: AFP

Milhares de líbios se reúnem para as preces de sexta-feira do lado de fora de corte judicial em Benghazi, leste da Líbia

A tensão vinha escalando ao longo da semana, com protestos na capital aguardados para depois das preces. Segundo o site privado líbio Libyapress, os fiéis organizaram um protesto após a cerimônia religiosa e foram recebidos com violência pelas forças de Kadafi.

Trípoli se tornou uma espécie de bastião do regime, patrulhada pelas forças especiais do governo. Nos últimos dias, testemunhas disseram à BBC que o clima na capital era de uma tensa calma e que as forças de Kadafi podiam ser vistas em toda a cidade.

Os desdobramentos da crise líbia já indicavam o que vinha sendo chamada de antemão "a batalha de Trípoli". O leste do país – onde estão cidades como Benghazi, Tobruk e Ajdabiya – permanece sob controle firme da oposição, mas o governo lançou ofensivas para tomar o controle das localidades próximas ou a oeste de Trípoli, como Zuara, Sabratha, Misrata e Al Zawiya.

Até a quinta-feira, os relatos eram de que a cidade de Al Zawiya, a 50 km de Trípoli, era palco de alguns dos mais sangrentos enfrentamentos. Na terceira cidade do país, Misrata, a 200 km da capital, foram registrados combates pelo controle do aeroporto. Mas os relatos são que a cidade também caiu em favor dos rebeldes.

Nesta sexta-feira, centenas de milhares se reuniram em Benghazi, epicentro dos protestos contra o regime de Kadafi, para exigir a renúncia do líder líbio.

Pressão internacional

Fora do território líbio, as olhares estão centrados na reunião desta sexta-feira do Conselho de Segurança da ONU e Nova York, com a expectativa de que sejam aprovadas medidas urgentes para deter o "alarmante" aumento da repressão no país, onde além de milhares de mortos e feridos, há "massacres, detenções arbitrárias e torturas", segundo a ONU.

A criação de uma zona de exclusão aérea, com o objetivo de impedir aviões militares líbios de operar e atacar manifestantes, pode ser uma das medidas, disse nesta sexta-feira uma fonte diplomática durante a reunião de ministros da Defesa da União Europeia.

Além disso, a reunião do Conselho de Segurança analisará uma proposta de resolução franco-britânica, que inclui a imposição de sanções, o embargo total de armas e o recurso ao Tribunal Penal Internacional, afirmou a ministra de Relações Exteriores francesa, Michèle Alliot-Marie.

A decisão de que o principal órgão decisório da ONU se reúna pela segunda vez em três dias foi tomada após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversar por telefone com seu colega francês, Nicolas Sarkozy, e com os primeiros-ministros britânico, David Cameron, e italiano, Silvio Berlusconi.

Nesta sexta-feira, a União Europeia (UE) fechou um acordo sobre um novo pacote de sanções contra a Líbia, entre as quais se destacam um embargo armamentista e o congelamento dos bens do clã Kadafi em território comunitário, informou a Alemanha. De acordo com o Ministério de Assuntos Exteriores alemão, a medida foi pactuada nesta sexta-feira entre os 27 países do bloco e será sancionada formalmente no início da semana que vem.

Dentre as sanções estipuladas está também a proibição a Kadafi e a seus familiares de entrar em quaiquer dos países da UE.

Segundo o "The Daily Telegraph", o Tesouro britânico identificou bilhões de dólares depositados pelo regime líbio na City londrina, além de propriedades comerciais e uma milionária mansão que Kadafi comprou para um de seus filhos. Acredita-se que o regime líbio tem US$ 20 bilhões em ativos líquidos, grande parte em Londres.

Em outra medida de pressão, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU adotou nesta sexta-feira uma resolução por consenso para enviar uma missão para investigar as violações na Líbia e recomendou que o país seja suspenso da entidade.

A Líbia foi eleita em maio de 2010 para o Conselho após obter 155 votos em uma votação secreta dos 192 estados da Assembleia Geral. O país pode ser suspenso do órgão se dois terços dos membros dos Estados membros da ONU reunidos na Assembleia Geral aprovarem a medida.

Na abertura da sessão especial do conselho, a Alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, expôs com contundência a situação na Líbia. "As forças líbias atacam manifestantes e transeuntes, bloqueiam bairros e disparam a partir dos telhados. Também bloqueiam ambulâncias para que os feridos e mortos sejam abandonados nas ruas", explicou.

Pillay insistiu em que as atrocidades do regime de Kadafi podem constituir crimes contra a Humanidade e pediu a "Tunísia, Egito, Itália e Malta" que mantenham suas fronteiras abertas. O Programa Mundial de Alimentos (PAM) alertou que a rede de distribuição de alimentos na Líbia pode ser paralisada, já que o país é um importador de alimentos e o transporte está bloqueado por causa da revolta e a repressão.

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, convocou nesta sexta-feira uma reunião urgente da aliança sobre a Líbia, embora esta deva ser orientada a revisar as possíveis medidas de retirada e assistência humanitária na região, onde continua o fluxo incessante de refugiados.

*Com BBC, EFE, AFP, Reuters e New York Times

Fonte:http://ultimosegundo.ig.com.br

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